Agroecologia, quanto ciência, surge na América-Latina na década de 1980, partindo dos acúmulos das diversas tendencias até então conhecidas como “Agriculturas Alternativas”, como exemplo na Alemanha a Agricultura Biodinâmica, Inglaterra a Agricultura Orgânica, no Japão a Agricultura Natural, entre outras. Na realidade, eram filosofias, técnicas, conceitos e princípios, que surgiram no início do século XX em resposta ao modelo de desenvolvimento que estava se estabelecendo. Após a II Guerra Mundial, com a promessa de resolver os problemas da fome no mundo, ocorre a “Revolução Verde”, um processo sucateamento das tecnologias bélicas para uso massivo na agricultura, como o caso da mecanização e utilização de insumos químicos.
No Brasil, por exemplo, na década de 1960, surge o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), o governo financiava as atividades agrícolas, porém, para obter o crédito, o agricultor deveria se comprometer em adequar seu sistema de produção aos “Pacotes Tecnológicos”, parte do crédito estava comprometido para compra de “Insumos Modernos”, e orgão de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural estavam voltados a implementação dessas tecnologias. Paralelo a esse processo, os sistemas de comunicação, transporte, alimentação, educação e saúde estavam passando por um processo semelhante, instalando assim um mecanismo onde são completas as dependências de como o sistema capitalista para manutenção da vida humana.
Num enfoque sistêmicos, as “Agriculturas Sustentáveis” não conseguiram dar as respostas para os problemas sócio-ambientais que vinham se acumulando.
A “Agroecologia é uma ciência para o futuro sustentável”. Isto porque, ao contrário das formas compartimentadas de ver e estudar a realidade, ou dos modos isolacionistas das ciências convencionais, baseadas no paradigma cartesiano, a Agroecologia integra e articula conhecimentos de diferentes ciências, assim como o saber popular, permitindo tanto a compreensão, análise e crítica do atual modelo do desenvolvimento e de agricultura industrial, como o desenho de novas estratégias para o desenvolvimento rural e de estilos de agriculturas sustentáveis, desde uma abordagem transdisciplinar e holística. Representa um poderoso instrumento de ruptura com a tradição reducionista na qual se baseia a ciência moderna, principalmente pela sua proposta de transdicisplinaridade, por incorporar a complexidade, a dúvida e a incerteza, além de validar também os saberes tradicionais e cotidianos.
Também não se pode pensar em Agroecologia como “ciência neutra”, já que há em suas pesquisas e aplicações claro posicionamento político. Ela se coloca como ciência comprometida e a serviço das demandas populares, em busca de um desenvolvimento que traga soluções sustentáveis para os diversos problemas hoje enfrentados na cidade e no campo.
Contrapõe o modelo de desenvolvimento, ao agronegócio, as transnacionais, questionando suas tecnologias, e integra várias áreas do conhecimento para elaborar propostas para o desenvolvimento sustentável. Vem sendo uma importante ferramenta para os movimentos sociais, Via Campesina, movimento estudantil, além dos inúmeros grupos, institutos, ONG’s e associações que estão se organizando para construir a Agroecologia.
Priscila Rollo
Nenhum comentário:
Postar um comentário